Esse é um caso contecido.
Era o velório do Vô Pedro (Pedro
Lino Vieira, irmão dos tios Doro e Guilhermino).
Vô Pedro ficou caduco cedo, viveu muitos anos já sem
conhecer mais ninguém, nos últimos 3 anos praticamente não saía da cama, na sua
casa, na Faustino Teixeira, em Bom Despacho. Quando morreu, a morte foi recebida
com tristeza tranquila.
O velório estava indo, as visitas ainda chegando. A casa
pequena, a sala muito cheia. Nós de casa fomos pro quintal.
Num dos tamboretes, Tio Guilhermino, tranquilo, pitava,
acolhia os pêsames. Num dos momentos de calma, tomei coragem de perguntei pra
ele, o tom mais respeitoso que pude: “-Tio, o senhor, é mais velho, o que que aprendeu
na vida, e acha que nós, os mais novo, devia de ficar sabendo?”
Ele levantou os olhos, meio surpreso, sem mudar a calma: “-Boa
pergunta... Vou responder ocê. É assim: num toma o sereno da noite, num perde o
da madrugada, e num tema com ninguém.”.
“Nossa, tio! Trem difícil. Num temar com ninguém?”
“É. Procê ver: cresci na bêra do São Francisco, moro lá,
vejo aquele rio no diário, já vai fazer uns 80 anos. Fora o que os antigo já
viro e contaro. Vejo o rio correndo prá lá. Aparece um de fora e fala: “não,
Guilhermino, o rio corre é pra cá”. Vou teimar? Num foi lá ver. Às vez virou...”
“Entendi, tio. Brigado. Num garanto dar conta disso não, mas
vou espalhar... O senhor me dá um tiquim da Farrista. Brigado.”.
Acompanhei o enterro e carreguei o caixão do Vô Pedro até o
cemitério velho de Bom Despacho. Tio Bino (outro irmão do Vô Pedro) tava lá,
muito emocionado, se despediu. Contou muitos casos. Ôtra hora eu conto.