Ver dade
Há
em mim palavras de tocaia,
me
esperam e me acham
me
lembram: não sou meus pensamentos
Pelo furo da boca me
escapo.
Meus nadas
não terminam
Necessito
esquecimentos e desvios
Nos deslizes
da voz me falo
com sotaque
de névoa.
De lugar onde
existem minhas linhas
Com as pontas
dos dedos roço alíngua
Quando
redescubro as palavras
É a mim que
re-descubro
Ao cansaço da
dicção que tropeça
Atos exatos
desato em centelha
De escândalo
e gozo, pedra ao avesso
No princípio
sou o ato
Minha verdade
não cabe em sons
Pelas frestas
se anuncia
Ansioso por
quem me descubra
Ofereço
janelas na fala
Não é o
silêncio que me ameaça
E nem meu
corpo se cala
Às portas do
real entrego
troiano cavalo de vidro
troiano cavalo de vidro
Acontece
nesses descaminhos
Confessar meu
destino de chama
Dar-me às
levezas, não jurar por palavras
Meus segredos
num copo d’água
Minha carne é
feita em alguma língua
Dos verbos
aos tendões
A poesia, ato
falho ou delírio
Quem a assina
não a sabe
Com palavras
além de mim me desvelo
Compartilhado
em clarões de relâmpago
Concretamente
peço, perceba-me:
meu nome é
seqüência de letras.
(Palavras
também se emprestam: “Preciso do desperdício das palavras para conter-me”[1])
[1] Manoel de Barros (1993). O livro
das ignorãnças. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. 3a
edição, pg 43.
Nenhum comentário:
Postar um comentário